“Mágoa.
A dor que vai além da dor”.
(Côn.
Manuel)
O Evangelho de Lucas nos seus vinte e quatro capítulos é
rico em parábolas. Em cada capítulo e parábola uma metodologia pedagógica
engrandece a vida espiritual e, sobretudo, o que Jesus nos quer dizer ao
coração, como seus discípulos e missionários.
Entre todas as parábolas nos interessa refletir aquelas
que levam à mágoa. No agitado mundo em que vivemos; no limiar da realidade que
se apresenta a cada dia; nas íngremes situações que almejam as festividades das
novidades, muitas vezes inesperadas, magoar alguém não é tão difícil.
A qualquer hora, uma conversa, uma situação pode-nos
atingir e, assim, esse desafeto, ganha nossa pessoa. Podemos lembrar aqui a
grande mágoa /dor de Madalena (Lc 8, 2; Mc 16, 9), que tanto sofreu nos
comentários daqueles que lhe queriam atirar a pedra.
A quem interessava a intensidade da primeira pedra? No
fundo a mágoa é um “transferir para outrem a degradação que temos em nós”, nos
assevera Simone Weil.
Quando Zaqueu (Lc 19, 1-5) quis ver Jesus, imagine o quanto não estava sofrendo interiormente, com a vida que levava. Ele mesmo se magoava. Este publicano fez de sua situação um grande momento para se aconchegar ao Mestre e mudar de vida.
Quando Zaqueu (Lc 19, 1-5) quis ver Jesus, imagine o quanto não estava sofrendo interiormente, com a vida que levava. Ele mesmo se magoava. Este publicano fez de sua situação um grande momento para se aconchegar ao Mestre e mudar de vida.
Daqui podermos admirar as palavras de Izzo Rocha:
“Reconhecer o erro ou uma maldade praticada é o primeiro passo para o perdão”.
Hoje, ao vivenciarmos as prontas respostas, desde os
jovens aos adultos; o querer ter sempre razão, sem escutar o outro e o se
engalanar com palavras que mais parecem uma artilharia, não é novidade se a
mágoa nos atingir.
A mágoa nada mais é do que uma mancha ou nódoa
proveniente de contusão. Ela enche o sentimento de desgosto, amargura, pesar e
tristeza. Aos poucos, essa sensação causa uma impressão desagradável causada
por ofensa, chegando aos mais altos índices do descontentamento e atingindo seu
grande objetivo que é a pessoa.
Com essas considerações, apresentadas pelo dicionário
Aurélio, vamos descobrindo que a mágoa “altera as estações e as horas de
repouso, fazendo da noite dia e do dia noite”, nos alerta William Shakespeare.
A mágoa, em sua estrutura, atua no mais vulnerável de
nossa sensibilidade e, acessando suas forças, deterioriza os afazeres
quotidianos. Por isso, a quem interessa a mágoa? Contudo, em sua metodologia,
ela, aprimora o verdadeiro conteúdo do perdão.
Já nos diz Silvana G. Luiz: “O antídoto mais potente
contra a mágoa é o sincero perdão”. A
mágoa, no fundo, nos amadurece. Sua arte de dirigir enriquece nossas atitudes,
palavras e a prática de nossas ações. Ela move nossa maneira de ver o outro e
até onde podemos ir. Quem já passou por esse momento, sabe que essa dor pode
ser um investimento, que a vida nos dá, para um amadurecimento.
A mágoa atinge todo o corpo. Ninguém sabe onde ela
começa e onde termina. Sua marca deixa um “dolorido” em todo o nosso ser. Sua
ação usa todo um conjunto de técnicas, onde os processos utilizados ultrapassam
as palavras humanas.
Só o sentimento se acha autorizado a outorgar uma
sensação, mobilizando um sinal para acionar esta afronta. Esta mácula esfria
nossa vontade de ver as coisas, mas por outro lado, aumenta a prática do bem
viver o amanhã. Não esqueça, a mágoa, é um investimento que a vida nos dá para
amadurecermos.
Esta ignomínia, a mágoa, quando nos visita, muitas vezes
sem pedir licença, ocupa todas as repartições da personalidade, do caráter, da
maneira de ser e, ainda, nosso coração e consciência. Esta mancha nos
transforma deixando vestígios que só o tempo pode curar. Farmácia alguma, por
mais equipada que esteja, não tem nem remédio nem formula para esta dor.
Contudo, quem se habilita a vê-la como um aprendizado, encontra nela altas
lições, onde, no silêncio, estuda o que pode aprender com este estigma. Seu
método, embora doloroso, pede a nós uma atenção especial para acolhermos sua
mensagem.
Se com tudo podemos aprender a tirar grandes lições para
a vida, com a mágoa não é diferente. O que a vida nos oferece não podemos jogar
fora. A mágoa, apesar de ser censurada e nos colocar em situações
desagradáveis, pode ser uma grande oportunidade de você e eu revermos nossas
atitudes, permitindo, assim, escutar com mais atenção o que o outro diz ou o
que dizemos ao outro. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Professor do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro
da Academia de Letras e Artes de Diamantina – MG
Membro
da Academia Marial – Aparecida – SP
Meus agradecimentos ao Reverendíssimo Cônego pela
citação de frase de minha autoria e a Arquidiocese de Diamantina pela
publicação e divulgação.
Izzo Rocha
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